O livro de Adorno é escrito à maneira de uma monografia acadêmica, ou um relatório ao instituto de Pesquisa. Não se trata, como é dito algumas vezes ao longo da obra, de criticar a própria astrologia, que é deixada em paz enquanto ocultismo, mas sim de demonstrar o quanto as colunas de astrologia como manifestações de uma cultura alienada e massificada repetem e doutrinam os leitores em termos de comportamento adequado para um indivíduo de sociedade capitalista. Ou seja, a preocupação de Adorno é demonstrar que mesmo em escala microcósmica a colonização do pensamento que a cultura capitalista provoca é atuante.
É bastante impressionate o caminho demonstartivo que nos faz perceber que mesmo algo tão banal quanto uma coluna astrológica é um canal para a colonização capitalista. Os valores de conformismo, de valorização do "científico", do 'especialista", a capacidade que o capitalismo espetacular tem de se imiscuir e regular mesmo o mais privado como a intimidade e o prazer- que se torna lazer, ou seja, não o tempo livre para o ócio e o campo livre do desejo, mas tempo disciplinado que deve ser preservado para a saúde mental e a adequação, ou seja, para a rotina sanitária que impede que a disciplina de trabalho leve ao suicídio. É interessante o quanto a percepção de um Adorno, ou de Benjamin e em paralelo de um Debord e Foucault, consegue dar conta da lógica do capitalismo do bio-poder, ou do capitalismo unidimensional, ou do capitalismo espetacular, à preferência.
Como uma nota pata atestar a contemporaneidade deste pensamento, podemos evocar o quanto o gesto afetivo da amizade e da curiosidade foi transformado "personal net-working", em redes sociais- que são mantidas como forma de expandir ao campo do afeto a persona bio-política que serve ao trabalho. Personalidade e amizade tornadas maneiras mais intensas de promover a própria capacidade de trabalho, e comunicação tornada ferramenta de controle.
O que sempre admirei em Adorno foi sua capacidade de colocar a esfera do trabalho dentro da discussão teórica em termos que não fossem puramente econômicos, como é o caso do marxismo pós-Marx. Este marxsimo parece nem se dar conta dela às vezes,desta dimensão do organismo mental do sujeito que é subjugado por mecanismos concretos de controle e disciplina, o grande adversário, aquilo a que é necessário se opor.
Quanto ao livro em si, os mecanismos descritos estão presentes teoricamente em outras obras de Adorno, especialmente na DIALÉTICA DO ESCLARECIMENTO, como a introdução de Rodrigo Duarte aponta. Talvez o livro tenha valor excepcional como uma demonstração de método crítico, um estudo de caso em que a Teoria Crítica é utilizada sobre um objeto menor.