sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

AS ESTRELAS DESCEM À TERRA, Theodor W Adorno



O livro de Adorno é escrito à maneira de uma monografia acadêmica, ou um relatório ao instituto de Pesquisa. Não se trata, como é dito algumas vezes ao longo da obra, de criticar a própria astrologia, que é deixada em paz enquanto ocultismo, mas sim de demonstrar o quanto as colunas de astrologia como manifestações de uma cultura alienada e massificada repetem e doutrinam os leitores em termos de comportamento adequado para um indivíduo de sociedade capitalista. Ou seja, a preocupação de Adorno é demonstrar que mesmo em escala microcósmica a colonização do pensamento que a cultura capitalista provoca é atuante.

É bastante impressionate o caminho demonstartivo que nos faz perceber que mesmo algo tão banal quanto uma coluna astrológica é um canal para a colonização capitalista. Os valores de conformismo, de valorização do "científico", do 'especialista", a capacidade que o capitalismo espetacular tem de se imiscuir e regular mesmo o mais privado como a intimidade e o prazer- que se torna lazer, ou seja, não o tempo livre para o ócio e o campo livre do desejo, mas tempo disciplinado que deve ser preservado para a saúde mental e a adequação, ou seja, para a rotina sanitária que impede que a disciplina de trabalho leve ao suicídio. É interessante o quanto a percepção de um Adorno, ou de Benjamin e em paralelo de um Debord e Foucault, consegue dar conta da lógica do capitalismo do bio-poder, ou do capitalismo unidimensional, ou do capitalismo espetacular, à preferência.

Como uma nota pata atestar a contemporaneidade deste pensamento, podemos evocar o quanto o gesto afetivo da amizade e da curiosidade foi transformado "personal net-working", em redes sociais- que são mantidas como forma de expandir ao campo do afeto a persona bio-política que serve ao trabalho. Personalidade e amizade tornadas maneiras mais intensas de promover a própria capacidade de trabalho, e comunicação tornada ferramenta de controle.

O que sempre admirei em Adorno foi sua capacidade de colocar a esfera do trabalho dentro da discussão teórica em termos que não fossem puramente econômicos, como é o caso do marxismo pós-Marx. Este marxsimo parece nem se dar conta dela às vezes,desta dimensão do organismo mental do sujeito que é subjugado por mecanismos concretos de controle e disciplina, o grande adversário, aquilo a que é necessário se opor.

Quanto ao livro em si, os mecanismos descritos estão presentes teoricamente em outras obras de Adorno, especialmente na DIALÉTICA DO ESCLARECIMENTO, como a introdução de Rodrigo Duarte aponta. Talvez o livro tenha valor excepcional como uma demonstração de método crítico, um estudo de caso em que a Teoria Crítica é utilizada sobre um objeto menor.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

OS EXILADOS DE MONT PARNASSE Jean Paul Caracalla


Seria muito bom poder dizer que este é um livro de história da cultura, ou pelo menos um bom livro sobre um momento e uma geração excepcionalemtne importantes na história da literatura, o de escritores anglófonos que povoaram Paris na primeira metade do século XX. Joyce, Fitzgerald, Hemingway, Beckett, entra tantos outros, além da incontável constelação de editores, entusiastas, mecenas, etc, etc. Enfim, o período mereceria uma abordagem com um mínimo de talento e de profundidade.

O livro de Caracalla é, ao contrário, um superficial (e mal escrito) caldo de anedotas e historietas sobre estes personagens. Estranhamente o autor não consegue nem mostrar um mínimo de entusiasmo pela matéria que se propõe a contar, o que nos poupa de exclamações e de personagens pretensamente chocantes, a não ser talvez no caso de Joyce e de Fitzgerald, mas parece aí mas um caso de antipatia de um escritor medíocre em relação a figuras que necessariamente não poderia entender.

É interessante comparar esta obra com o "Instante Contínuo", de Geoff Dyer, aí sim uma mistura de narrativa, história e ensaio, talvez não propriamente profunda mas que ao menos respeita o fluxo do espírito. Caracalla o massacra...