Há umas estranha melancolia neste livro, como se o narrado fosse um mundo em extinção, o que considerando a Argentina de hoje não deixa de ser compreensível. É a narrativa de uma criança com suas impressões sobre o mundo adulto, mas como se essa criança já nascesse de um ponto desenganado, como se a lenta decadência que testemunha, real ou em semente, fosse um dado que contaminasse toda realidade. Como na linhagem a que esta novela pertence, a do romance moderno em língua inglesa sobre a raiz da burguesia no estilo de um McEwan ou um ancestral forte, Proust, A História do pranto tenta desesperadamente achar algum tipo de pathos na vida da classe média, construir um drama onde não há possibilidade de drama. Pensamos nos filmes de Victoria Martel, em que este mesmo moto, a tentativa de dar profundidade à vida burguesa, é tornado alguma coisa um pouco mais visceral, e então dramática de fato. O tema é a decadência de qualquer forma. Pauls tem o mérito de abordá-la sob uma perspectiva histórica, o dos assassinatos políticos durante a ditadura, meio que dizendo: olha só, aqui começou o nosso fim.
A pergunta suscitada pelo olhar do menino se refere a algum tipo de gradação do sofrimento humano. Esta História com H maiúsculo, que destrói, exila e mata, e que se refere à corrente mais exata daquilo que poderíamos chamar de angústia, é comparável ou ao menos se relaciona com as outras formas de sofrimento, os desenganos amorosos, a perda da infabilidade dos pais, a percepção do tamanho minúsculo que as pessoas têm quando miseráveis? A trama do romance vai nesta direção, o do contraste e entrelaçamento destas formas distintas de sofrimento, o quanto a decadência histórica, necessariamente cega e coletiva, se projeta na decadência pessoal, aparentemente construída através de escolhas íntimas. A idéia de um Destino, de um Fado, aqui, mereceria ser discutida: é impossível ser feliz em um mundo que sofre, e nosso destino enquanto indivíduos obedece às mesmas leis e direção que as da comunidade. Obviamente este é o tipo de asserção de um autor jovem, que se esquece de uma certa euforia consumista que ocorreu em paralelo com as ditaduras latino-americanas, especialmente no Chile e Brasil, mas também na Argentina. Esta pequena comédia da afluência é a narrativa burguesa da época, dificílima de contar e necessariamente anti-dramática, e embora de fato as sementes da decadência posterior estivessem na alienação deste tempo, é mesmo uma comédia, nunca foi um drama.